Eu conto tudo da minha vida pra Carol. Tipo, tudo. E ela acaba sabendo mais de mim do que eu mesma. Normalmente, ela é quem joga na minha cara verdades que eu insisto em negar, e é quem me faz admitir coisas que eu não admitiria nem que me pagassem. “Não, não é bem assim” “Bonie, larga a mão de ser idiota, é assim sim!” “Não, não é” “Bonie...”. Ela sempre me pega.
A Carol não tem rosto, nem sei se ela é alta ou baixa, gorda ou magra. Só sei que ela é morena de cabelo comprido. E tem TPM. E eu vivo jogando na cara dela que eu não tenho. Como que pra me vingar das coisas que ela joga na minha cara, talvez. Ou pra provar que, apesar de todos os meus problemas e esquisitices, pelo menos TPM eu não tenho.
É ela que ri das minhas idiotices, que dispensa minha necessidade de escrever em diários, que presta a maior atenção nas histórias – muitas vezes, também imaginárias – que eu não conto pra mais ninguém. Às vezes, ela se transforma em alguém conhecido pra quem eu conto uma história real, outras vezes é só aquela pessoa sem rosto que fica ali pra conversar. Ahm... ok, eu sou maluca, mesmo.
Claro que a gente briga, quando ela tenta me convencer de coisas em que eu não quero acreditar. Mas que, no fundo, são inegáveis. Mas é legal ter uma amiga imaginária. Ela só aparece quando eu preciso, só me conta o que eu quero saber e nunca me cansa. Só que de qualquer jeito, meus amigos reais continuam a ser indispensáveis.