terça-feira, 12 de agosto de 2008

Nostalgia bizarra.

Esses dias, indo buscar minha amiga no metrô, passei em frente ao colégio em que eu estudava no primário. E, obviamente, comecei a lembrar daquela época. Mas o engraçado é que não me deu saudade do colégio, mas do prédio em que eu morava.

Era um prédio de dez andares e pintura descascada, numa ruazinha do Jabaquara, mais ou menos atrás do hospital Santa Marina, depois de uma ladeira gigante que eu odiava subir pra pegar o ônibus. Minha mãe não dirige, e quando eu era pequena, ela me levava pra todos os lugares de ônibus, mesmo. Hoje, minha avó e minha tia estão morando lá, mas eu não vou há um tempão.

Eu não tinha muitos amigos por lá, pra ser sincera. Eram poucas as crianças da minha idade, e meio estranhas também. Mas tínhamos uma vizinha muito legal com quem minha mãe conversa até hoje, e a neta dela era um amor. Sempre que ela ia ver a avó, ligava pra mim e eu ia lá no apartamento dela (que se não me engano era no sexto andar) brincar com ela. Às vezes, a gente ia pro meu apartamento e brincava de Barbie. Ou então, de casinha e essas coisas de menina, lá na casa da Dona Benê, mesmo.

A propósito, eu morava no nono andar. A coisa que eu mais gostava de fazer era me esticar toda nas pontas dos pés pra conseguir ver a piscina lá embaixo. Tudo bem que usar mesmo a tal da piscina, eu só devo ter usado umas duas ou três vezes, nos oito anos que fiquei por lá. Mas era o máximo ver o pessoal esticando as toalhas de praia no chão e as crianças maiores espirrando água pra fora. Todo mundo ficava pequenininho, parecia que eu poderia segurá-los na palma da mão, se eu quisesse.

Quando fiz oito anos, a gente se mudou aqui pro condomínio do Jardim Marajoara. No começo eu fiquei meio deslumbrada... Tinha um parquinho muito maior do que o do outro prédio, quatro quadras, biblioteca, academia, montes de crianças... era uma cidade! Não tinha piscina, mas eu não me importava muito, na verdade.

Fiz vários amigos, e muitas amizades dessas estão comigo até hoje (e eu me orgulho muito delas). Mas aí eu fui crescendo e comecei a perceber que eu gostava pra caramba da simplicidade lá do outro prédio. Lá não tinha nenhum grupinho de meninas metidas, nem gente riquinha e pomposa passeando com seus poodles emperequetados, nem adolescentes rebeldes que achavam que eram adultos e podiam fazer montes de coisas.

Mas a coisa de que eu mais sentia falta (e confesso que sinto, até hoje) era de abrir o portão do prédio. Era um portão leve, vermelho, mais descascado que a pintura do prédio. Tinha aquelas coisas na parte de cima que me lembravam as lanças do Papa-Capim, e cercava o terreno todo. O meu maior prazer quando eu saía a pé era abrir e fechar o portão. O barulhinho que a lingüeta fazia ao fechar me fazia sentir como quando eu ouço o barulho de água sendo despejada. É uma coisa que não dá pra explicar.

Aqui em casa, eu sempre entrei de carro, com o meu pai, ou de perua escolar (sim, eu ia de perua escolar). Depois que comecei a sair sozinha... putz, não é a mesma coisa. O portão é diferente, é menor mas é mais pesado. Só sei que, sempre que eu visito alguém, eu corro pra abrir e fechar o portão do prédio, só pra ver se eu encontro aquela sensação do portão de casa...

Quem disse que eu sou normal, mesmo?

14 comentários:

Camilla disse...

Que é isso, prova do Welington?





Tô brincando, ficou bom.
E eu tô muito nostálgica, mas não de prédios. Da vida mesmo...

Felipe Held disse...

Disparado, o melhor texto que eu já li por aqui. Não que os outros fossem ruins; pelo contrário. Mas esse foi sensacional.

Mesmo vc tendo morado em Diadema.

Vanessa Pinho disse...

Aiii que delícia esse teu texto.
Me fez lembrar de muitas coisas que eu também sinto falta.
Sei qual é essa sensação do portão abrindo e fechando. É a mesma do barulhinho que fazia o baleiro da venda do tio Zé, quando a gente girava pra ver qual doce comprar. :P

Hoje não existe mais tio Zé, não existem mais baleiros enferrujados daquele tipo, e não existem mais vendas, agora são mercados (SUPERmercados) Né?

Saudade...

Marcelo Macedo disse...

Meu portão é assim, meu portão é assim!!!!!!

Ta, não é vermelho e nem descascado. E talvez seja um pouco mais pesado. Mas ele faz barulhinho e...

Ah, a quem eu quero enganar? só to falando isso pra vc me visitar mesmo... =)

Muito bom o texto!
Beijao, Bo!

Tiffany disse...

adorei o texto! me fez lembrar de várias coisaas deliciosas! :D

Alessandra Castro disse...

Ahhh eu adourava morar em apartamento. Uma das minhas maiores diversões provinham das noites de chuva, quando eu corria p/ janela olhando os raios caindo adoidado. :D

Tatah Marley's Confissões disse...

Ahh, gostei da descrição..
E que muié, pop nada..
é pqe vou em muitos blog, adoooro ler e mais ainda escrever, então, facilita..
Tem muita gente com os mesmos pensamentos que eu..
E a infancia.. Ahh, tenho saudades de um lugar que eu jah morei tbm, mais prefiro o atual,sem comparação!
E como disse a camilla.. to nostálgica da vida tbm..
Nossa, o que uma viagem nao faria cmg agora.. \õ/

beeeijo

Cláudia disse...

Só não digo que é o melhor post que eu li aqui porque 1) eu não tenho memória 100% confiável e 2) eu não quero causar aqueeela pressãozinha básica chata de "oh, foi ótimo, então preciso me superar no próximo".

Maque tá lindo, tá! =D Ficou mei Amélie.

Bejo!

Mar e Ana disse...

Aaahh q bonitinha =] Q saudadica dessas coisas hueheuhe
Eu não lembro mto do portão do prédio que eu morei em Floripa, mas também foi tão pouco tempo que eu considero ter vivido a vida toda em casa =p
E agora o portão é eletronico.
Aliás, quer vir conhecer minha casa? Ce ia adorar ;}
num tem piscina, mas já que isso não te faz falta...

:*

Felipe Drummond disse...

adorei o texto e o tom nostálgico não forçado que você utilizou. parabéns.

Anônimo disse...

É de cada coisa simples que a gente acaba sentindo saudades, não é?! Parei pra pensar agora no que sinto saudades e me lembrei de uma: subir no vão da porta da cozinha da casa em que eu morava quando os meus pais ainda eram casados. Nossa, e eu era bem mais magrinha, subia e dava pra ficar até por alguns minutos la em cima se eu aguentasse firme. É, e cada coisa boba não é? Quem diria que um simples portão te traria tanta nostalgia. E o mais curioso, é que, daqui a alguns anos, algo que você faz hoje e que nem liga, trará saudades pra você amanhã. =)

Beijobeijo:*

Renatinha disse...

Sinto saudade da minha casa de itanhaém... morei tanto tempo lá que consigo andar por lá de olhos fechados e não esbarrar em nada...!

:(

Camila M. Schuch disse...

Lindo teu texto, me fez relebrar de coisas pelas quais eu passei...

Ai, eu adoro nostalgia!

Beeijos

Tha disse...

Olá, a mto tempo que estou no mundo dos blogs apenas como leitora, mas na fase em que estou vivendo me senti no momento de ter o meu próprio blog, por que não tentar?

quanto ao post...
Cara, moro no Rio, creio que minha infância foi bem diferente da sua, mas por sei lá o que, me identifiquei tanto com o seu texto...
amei! momentos da minha infãncia que voltaram só em tentar comparar... Adorei isso!

vo te linkar e voltar mais vezes
bjuss ")