quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sem título, por enquanto.

Não chorava desde a morte do pai, havia uns três anos. Tivera momentos felizes, tristes e emocionantes desde então, mas nenhum deles a havia comovido a ponto de molhar o rosto. Parecia que nenhuma emoção seria tão forte quanto a que sentira naquele fatídico três de maio.

Voltava do curso de inglês – era o último semestre, finalmente estaria formada – a pé. Não havia comido nada desde o café da manhã, pois ficara terminando um trabalho com as colegas na hora do almoço. Colegas. Por mais íntimas que fossem, por mais que fizessem passeios juntas, saíssem à noite, passassem os intervalos conversando e fizessem grupos de trabalho, não conseguia chamá-las de amigas. Haviam se passado só dois anos desde que as conhecera, e não tinha certeza se o tempo era suficiente para que a confiança se firmasse.

Naquela tarde, o vento cortante gelava o rosto, ao mesmo tempo em que o sol a pino – e nenhuma nuvem no céu – dava a mais perfeita sensação de liberdade. Caminhava do curso para casa, o estômago doendo de fome, as mãos segurando os livros, apertadas. Andava a passos largos, mas não muito rápidos. Perdida em pensamentos, não ouvia nada, mas reparava em cada pequeno movimento à sua volta.

O bairro era tranqüilo, bonito. Havia algumas casas de aspecto antigo. Uma loja de quinquilharias na esquina, um cachorro latindo contente. Um casal abraçado no ponto de ônibus; a menina de mãos dadas com a mãe para atravessar a rua. Um moço de olhos verdes e cabelo bagunçado fumava, encostado à parede.

Sentou. Sem perceber, havia acelerado o passo, e agora estava cansada. O banco na esquina aparecera no melhor momento. Deixou que os livros pesassem sobre as pernas; a bolsa pendia cansada do braço direito. Com a mão esquerda, tirou a franja que caíra sobre o rosto e... sentiu algo molhado.

Depois de tanto tempo, uma lágrima. Solitária, a princípio. Mas algumas outras a seguiram, correndo livres pelo rosto e secando com o vento frio e o sol quente. Chorava.

Sorriu. Sorriu por estar chorando. O sorriso transformou-se em riso solto, e depois em gargalhada. Ria de si mesma por chorar. Por chorar por motivos aparentemente tão bobos, mas cuja importância só ela entendia. Não se importava mais. Nem com as lágrimas, nem com o sorriso, nem com a bolsa pesada, os livros que escorregavam dos joelhos, o sol que queimava o couro cabeludo, o frio que cortava a pele do rosto e das mãos.

Levantou. Caminhou para casa, pensando no que teria sobrado do almoço. Era um lindo, lindo dia.

16 comentários:

Princesiiinha disse...

gostei MUIIIIIIIITO do texto, sei la me fez pensar em umas coisas ai!
umas muitas coisas! ;X

boaa noite pra vooce!
;)

Anônimo disse...

hey sua chata!!! nem foi no meu niver!

:P

atualizei o blog hoje!

Carolina Pires disse...

Maravilhoso, mesmo.
Voltarei mais meses e irei relacioná-lo ao meu blog.
:*

Luara Quaresma disse...

Muito bom ler voce, texto ótimo! (:

Bruna disse...

Gostei. Um tanto quanto paradoxal :) te amo!

Giuliana disse...

Texto maravilhoso..parabéns!
Você escreve muuito bem! As palavras levam a gente num ritmo gostoso, tranqüilo e com gostinho de quero mais.
Hey, eu quero mais!
Será que essa história continua?

Bonie, estou te adicionando aos meus favoritos..vc merece!
beijooos

Vanessa Pinho disse...

Lindo teu texto.
Fiquei viajando aqui.
Beijão.

Camilla disse...

Nossa, foi tipo isso que eu fiz hoje no banho. Não que fizesse muito tempo que eu não chorava, mas preciso confessar que foi bastante...

Joji disse...

É mais fácil chorar pelo simples, pq o complexo não permite ao tempo que as lágrimas escorram :D

Douglas Funny disse...

heheheeheheh... esses choros do nada, sem motivos grandiosos, são bons... sinceros e lavam a alma...

Parace uma necessidade do ego...

... blz, agora já to viajando... heheheh

bjokas querida!!

Marcelo Macedo disse...

Olha, eu to comentando!!!
hahaha

pra dizer que passei por aqui e percebi que esse texto continuuuua sem título!
Tudo isso por causa da minha pressa?
Poxa...

Beijo

Alessandra Castro disse...

Ahh que texto tão cehio de emoções, me sensibilizei mesmo com a protagonista. Espero que depois dessa lagrima, um sopro de alivio tenha seguido.

Cláudia disse...

Foi um lindo, lindo post! :)

Anônimo disse...

"Falta eu acordar, ser gente grande pra poder chorar..."

Seu texto me lembrou muito o filme "O Amor Não Tira Férias". Muito parecido na essência! Assiste! Você vai gostar e concordar comigo na semelhança. ;)

Felipe Drummond disse...

desculpe a analogia, mas foi um passo atrás para dar dois na frente!

excelente texto.

Izabella Barroso disse...

honei, fiz isso ontem a noite hihih n necessariamente me formei no curso de ingles e tal HUEHEUOAOAH (quem me dera) :|
adoro seus textos³²¹³