Pedimos o prato, escolhi bife à parmegiana com purê de batatas, achamos um lugar na praça de alimentação lotada. Enquanto esperávamos que chamassem nosso número, a mesa ao nosso lado ficou livre. E sentou-se uma família, ocupando os quatro banquinhos giratórios de metal.
Não gosto de assuntos delicados, muito menos do meu posicionamento em relação a este em especial; mas posso dizer que era uma família de peso. Pai e mãe, duas filhas. Todos acima do peso. Com lanches do Burger King – nada surpreendente – e... latas de suco Del Valle.
Se não fosse por isso, seria só mais uma família normal – acima do peso, ok, mas normal – almoçando num sábado normal. Mas as latas de suco, com aqueles lanches cheios de gordura, molhos e colesterol, me intrigaram. Comecei a prestar mais atenção neles. (Na família, não nos lanches).
A filha mais velha devia ter uns nove ou dez anos. Era muito bonita, tinha olhos verdíssimos e cabelo loiro comprido. A mais nova ia pelo mesmo caminho, com lindos cachinhos daqueles de menininhas de uns dois anos de idade. Enquanto a pequena se divertia com o brinquedo que vinha no lanche para crianças, a mais velha conversava com a mãe:
- Mãe... hambúrguer é carne, né?
- É.
- Então hambúrguer é saudável?
Ao que o pai se intrometeu:
- Não, filha, hambúrguer não tem nada de saudável.
Observei a expressão desapontada da menina; ela sabia que não estava sendo saudável, e queria ser. Comecei a pensar em como ela seria bonita se fosse magrinha, se cuidasse mais do cabelo loiro, se usasse roupas mais modernas...
Saímos de lá e fui cortar o cabelo. Não gostei do resultado. Depois passei em uma loja pra comprar uma calça jeans; como de costume, não encontrei nenhuma que me servisse. À noite, tinha uma festa de aniversário e não pude deixar de comer aquela pizza doce tão apetitosa.
E ainda quero ter moral pra falar da menininha?