Esses dias eu entrei no ônibus (ai, pelamordedeus, mais uma de ônibus não... finge que eu tava... no elevador, no metrô, no meio da rua, não faz diferença) depois de um dia exaustivo de trabalho e tal. Sentei lá no fundo e tinha dois menininhos surdos conversando.
Como todo mundo sabe, menininhos surdos conversam em linguagem de sinais. E, fora uma meia dúzia de letras, eu não sei absolutamente nada de linguagem de sinais. Logo, fiquei observando os meninos e tentando descobrir sobre o que eles estavam conversando. Os dois deviam ter mais ou menos uns 12, 13 anos. Usavam uniforme da escola e estavam indo lá pra AACD fazer algum curso (como eu descobri depois, quando desci no mesmo ponto que os dois e tinha tipo um congresso de surdos reunidos indo lá pra AACD fazer algum curso).
Comecei a pensar se eles estavam conversando sobre a escola, sobre a família, sobre o trânsito, sobre o que iam comer à noite. Fiquei olhando um tempão pra eles, prestando atenção, e nem me dei conta de que talvez fosse mais educado eu não fazer isso. Aí começou a me passar pela cabeça que, talvez, eles pudessem estar falando... de mim! Algo do tipo “Por que diabos essa menina chata fica olhando pra gente? Nunca viu um surdo na vida?”.
Ok, sei que é paranóia minha, mas confesso que eu fiquei meio preocupada com isso. Sei lá, é horrível não entender as coisas. Nada a ver com o fato de eu ser uma das pessoas mais curiosas (nada de enxerida, cu-ri-o-sa.) que eu conheço, mas foi tão irritante quanto sentar ao lado de dois... sei lá, finlandeses, conversando e não entender uma só palavra. E ficar pensando que a mulher pode estar falando mal do Brasil ou que o cara pode estar comentando o corte de cabelo bizarro da menina sentada ao lado. No caso, você.
A gente se irrita com as coisas que a gente não entende justamente pelo medo de que elas possam nos atingir. E, ao mesmo tempo, achamos essas coisas que a gente não entende fascinantes, pela ansiedade de descobrir o que elas querem dizer.
Que post óbvio.
Agora eu preciso entender porque eu demorei dezenove anos e meio pra me dar conta disso. Whatever.