terça-feira, 13 de maio de 2008

Michele.

Michele conheceu um rapaz no metrô.

Ela não era especialmente bonita, nem especialmente interessante. Pelo menos cuidava do corpo, do cabelo. Tinha colocado aparelho nos dentes havia pouco tempo, depois de tantos anos juntando dinheiro.

Estava frio, Michele usava botas de cano alto, calça jeans, uma blusa de malha e uma jaqueta preta por cima. Bem vestida, eu diria. E Michele tinha um bom emprego. Trabalhara como técnica de informática. Agora era secretária numa multinacional. Quando era técnica, havia pensado em prestar vestibular para ciência da computação. Ainda bem que desistiu.

Ele era alto. Tão alto que quase não esticava o braço para se segurar na barra mais alta do metrô. Tinha gel nos cabelos curtos, bem penteados. Não era magro nem gordo, fazia o tipo "forte". E tinha um sorriso simpático.

Carlos, o nome dele. Ela supunha; ele não dissera nada. Um esbarrão, um pedido de desculpas, um livro nas mãos... Falara só dela mesma, ele era quieto, ficava na dele, só ouvindo. Sorria muito, perguntava. Mas não falava de si próprio. Michele imaginava. Imaginava o nome, a idade, se tinha namorada... olhara para o dedo anelar – das duas mãos –, é claro. Não tinha aliança, mas podia ter namorada. Por que mesmo ela estava pensando naquilo?

O último namoro de Michele terminara havia mais de dois anos. Estava sozinha. Cansada de ser sozinha, mas inegavelmente sozinha. Não era à toa que se interessava por aquele estranho...

“Estação Paraíso. Acesso à linha um, azul”. Michele despertou. Tchau, tchau, beijo no rosto, Michele, prazer... “Michele, prazer”? É, tinha endoidado mesmo. Estação Paraíso. Era onde ela estava. Sua estação era a próxima. Foi em direção à porta, arrumou os cabelos, olhou em volta como que procurando alguém que tivesse notado o encontro. Um rapaz no metrô.

Michele estava cansada. Precisava descansar daquela canseira.