segunda-feira, 24 de março de 2008

A menina que se lembrou de viver.

Deitada na cama, ela colocara os fones de ouvido com a música que mais gostava. Apagara a luz, fechara a porta. Aquele era o momento dela. Só dela.

Olhos mirando o teto lascado, ela se lembrava de tantos outros momentos. Momentos só dela, como aquele; momentos com os amigos, momentos de diversão e de vida. Vida. Andava tão ocupada que se esquecera de viver. Sobrevivia, sim. E sobrevivia de forma feliz. Ria, brincava, passava por situações memoráveis. Mas se esquecera do gosto dos pequenos instantes, da vida.

Mas, naquela noite, naquele banco de madeira, naquela praça, ela havia se deixado viver. Esquecera as preocupações, os compromissos, a seriedade. Deixara-se ficar com a cabeça livre, os olhos fitos na lua cheia, aproveitando aquele momento de silêncio no aconchego daqueles braços.

Ela se perguntava por que havia demorado tanto tempo para se dar conta do significado daquele momento. Havia sido o momento deles. Não importava que o mantivesse em segredo, que o descrevesse em uma carta, que o publicasse nos jornais. Continuaria sendo o momento deles, não faria diferença. Único, mas compartilhado. E não importava quem conhecesse a história, pois conhecer o significado era um benefício dela, e só dela, assim como o momento. “Nosso momento”, ela pensava. E não seria de ninguém mais, nunca.

Pois só eles sabiam o que era, o que fora, o que poderia ter sido. Tinham na memória a sensação. Podiam ouvir os sons, sentir o cheiro, fosse um dia ou fossem anos depois. Mesmo que fosse em sonho, aqueles segundos já haviam sido eternos. E sentir, ela sentia. Sentia que estava viva. Era novo, desconhecido, como se tivesse desaprendido e tivesse que começar do começo, tudo de novo. Mas ela já dera o primeiro passo.

Naquela noite, ela se deixara viver.

domingo, 16 de março de 2008

Tempo nada fazer não para tenho.

Esses dias me disseram que eu estou estranha.
Esses dias me disseram que eu estou “surtada”.
Esses dias me disseram que eu estou intragável.
Esses dias me disseram que eu estou estressada.

Eu só acho que eu estou sem tempo pra nada. E com coisas demais em que pensar.





(Mas juro que eu vou achar alguma coisa pra postar por aqui).

domingo, 2 de março de 2008

Da vontade de viver tudo aquilo.

Teatro é mágico. (E não foi um trocadilho, porque eu nem gosto muito do Teatro Mágico, apesar dos esforços contínuos de muita gente pra me fazer gostar).

Mas é mágico. Mágico pelo que é, pelo que não é e pelo que representa. Por todas aquelas pessoas juntas fazendo aquilo porque gostam, só pelo prazer de estar ali, porque acham importante ser parte daquele conjunto, daquela obra, daquela arte. Arte, conjunto. Todos juntos. Pela arte.

Quando a gente assiste, nem sonha com o trabalho que deve ter dado, com o tempo que eles devem ter gasto pra que tudo ficasse perfeito nos mínimos detalhes. Parece que é tudo calculadinho pra dar certo. E se alguém desliza, ninguém nem percebe. Porque ninguém está ali pra perceber, pra reparar. A gente só quer curtir o momento, quer que não acabe nunca.

De uma forma ou de outra, aquele tempo é único, para cada um. Para nós mesmos. Para parar. Para pensar. Para viver as coisas que não vivemos de verdade, mas só ali, diante do palco, na vida que eles dão a pessoas que não exist... ah, existem sim. Naquele momento, durante os instantes em que eles vivem aquilo, os personagens existem. Não vemos os atores, vemos? Vemos os personagens, e por alguns instantes acreditamos que eles são reais, nos envolvemos com a trama e cremos – não por inocência, mas por conveniência – que aquilo tudo pode existir. E então, eles existem! E vão existir para sempre, depois de encenados uma única vez. Vão existir na memória, vão existir na lembrança, no coração e no amor de quem viveu. De quem sentiu na pele, de quem sentiu nos olhos e na imaginação.

Depois que acaba, fica aquela sensação boa, aquela vontade de voltar, aquelas imagens voltando a todo momento. Comentários com os amigos, as músicas, a roupa daquela moça, o cabelo daquele outro, e ele não era a cara daquele ator de Hollywood? Acaba, sim. Mas a gente pode fazer durar o tempo que quiser. As lembranças são nossas, já nos apropriamos de tudo aquilo – e o melhor, sem tirar de ninguém. Tudo que é bom costuma ficar melhor quando é compartilhado. Tudo que é bom, bonito, mágico.

Mágico.